Always in my head

Always in my head
(quadro do pintor brasileiro Fabrini)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A água da pedra

Vou dormir o meu sono de pedra
enquanto a vida for essa água morna
que se apequena por não ferver
a febre que deveria me acordar
aos solavancos

Se eu acordasse
e unisse o meu sopro à brisa da manhã
talvez a água fervesse
e a vida não passasse em branco

como branco é o papel
que não risca o grafite
como branca é a comida
que não desperta apetite
como branca é a civilização sifilítica
que rouba os cobres
e os tranca nos cofres
dos brancos bancos
ávidos por diamantes
tão límpidos quanto mais sujos são seus donos
(eles que têm a goela sorvedoura e ávida
por captar todo o resquício
do trabalho humano
e assim sustentam seus vícios
maisvalendo-se de suas vis maneiras
e escondendo sua roubalheira
tão bem quanto se fingem de santas
as freiras punheteiras).

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Música

As pedras
com que você
me ajuda
a enganar a mim mesma
você poderia usá-las
para construir
um castelo
e abrigar a sua vaidade,
aquela princesa
devassa
e vadia
que se esfrega
na perna
dos poderosos
que moem os
ossos do ofício
e com seu pó
constroem
um pedestal
para pôr a
coroa do Rei.

A
argamassa
que une
o pó
ao pó
é a baba
viscosa
dos
otários
cheios
de cáries
esburacadas
que eles
tapam
com
argamassa
cinzenta
feito
durepox.

O
espelho
que os destorce
é baço
qual um
inox.

E o nó
é tão
apertado
mas
a atadura
não impede
que tudo caia
em ruínas.

As minas

estão
estupradas
e os
diamantes
são
escassos
mas a caça
já foi
farejada
e breve
será
um
cadáver
destrinchado
por
dentes
pontiagudos.

A
ponte é,
sobretudo,
um
abrigo
ao meu
grito mudo.

Tudo
música
para os seus
umbigos.